Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, disse hoje que o discurso do Presidente do MPLA e (não eleito) de Angola à Nação foi um “conjunto de estatística que o país desmente” porque os aspectos que são “de emergência real do país foram sequer minimamente abordados”. Se em vez de 90 deputados a UNITA tivesse apenas 45 a análise seria diferente? Não. Seria a mesma. Então? Então os galos (da UNITA) vão cacarejar e a caravana (do MPLA) vai passar, cantando e rindo.
Adalberto da Costa Júnior, que fazia hoje a réplica do discurso de João Lourenço sobre o Estado da Nação, referiu que a mensagem o Presidente angolano foi longa, como habitualmente, mas não reflectiu o real estado do país. É verdade. A diferença é que um perdeu… mas ganhou, enquanto o outro ganhou mas vai continuar a peregrinar como um eterno vencido.
“Nós hoje acompanhámos um discurso, como habitualmente longo, de alguma estatística, de uma estatística que o país desmente. Nós todos acabamos de fazer uma actualização dos cenários reais do país que temos e os sinais que o país nos mostrou não correspondem a esta radiografia do passado”, disse hoje o líder da UNITA, puxando dos galões de ser o segundo classificado ou o primeiro… dos últimos.
Para Adalberto da Costa Júnior, o Presidente do MPLA (ou dos angolanos do MPLA), que discursava hoje na abertura da 1ª sessão legislativa da V Legislatura da Assembleia Nacional de Angola, descreveu “um país sem problemas pela quantidade de programas bem realizados”.
“Nós não teríamos condições de ter visto que vive na extrema pobreza um país que tem uma parte substantiva da sua população praticamente fora daquilo que são os parâmetros da dignidade humana, muito desemprego, um desemprego que envolve a esmagadora maioria da nossa juventude”, realçou com toda a razão. Esquece-se, contudo, que a razão não enche barrigas do Povo, se bem que atesta a pança dos seus 90 deputados e assessores adjacentes.
“Temos uma série de casos, províncias onde se morre de fome e hoje na intervenção do Presidente da República nenhum destes aspectos, que são de emergência real do país, foram sequer minimamente abordados, estivemos a falar de países distintos nesta questão”, frisou Adalberto da Costa Júnior, dizendo o que todos viram, o que todos conhecem, o que todos já sabiam que João Lourenço iria dizer.
João Lourenço, na intervenção na sede do parlamento angolano, fez uma retrospectiva umbilical de auto-elogio das realizações dos últimos cinco anos de governação nos domínios da saúde, educação, electricidade, construção de infra-estruturas e prometeu acções a serem realizadas no novo mandato e que, não disse Adalberto da Costa Júnior mas dizemos nós, abrirão as portas do paraíso a todos os escravos angolanos.
O Presidente do MPLA, no discurso sobre o Estado da Nação, assumiu mais uma vez o compromisso com a criação de autarquias, sem avançar datas, e anunciou a construção de 35 assembleias para as autarquias locais e complexos residenciais em 36 municípios.
A clarificação sobre esta questão era uma das mais esperadas no discurso de João Lourenço, depois de o chefe do executivo assumir novamente, mais uma vez, pela enésima vez, o compromisso de institucionalização das autarquias locais, caso o seu partido vencesse as eleições realizadas no passado 24 de Agosto.
“E o que Angola queria ouvir era coerência política, autarquias em 2023, nós não temos nenhum elemento que nos impeça de realizar as autarquias em 2023, nós não temos nenhum administrador nacional a trabalhar debaixo das árvores”, salientou o presidente da UNITA, em conferência de imprensa.
Em declarações, na sede do parlamento no final da intervenção do líder do partido que governa Angola há 47 anos, Adalberto da Costa Júnior considerou como “subterfúgios” os argumentos de João Lourenço sobre as autarquias locais.
“Portanto, subterfúgios foram hoje trazidos aqui para que se atrase a realização das autarquias que está à espera apenas a um agendamento para se aprovar a única proposta de lei, que não foi aprovada na generalidade e falta ser aprovada na especialidade”, recordou, salientando que o parlamento pode concluir este processo até ao fim deste ano.
Mas, observou, o Presidente da República “deixou muito claro que as autarquias locais não são parte para o seu programa estratégico para o quinquénio”, atirou.
Ladeado de Abel Chivukuvuku, deputado eleito pela UNITA no âmbito da Frente Patriótica Unida (FPU), e de Justino Pinto de Andrade, dirigente do Bloco Democrático, eleito deputado da UNITA também pela FPU, Adalberto da Costa Júnior também apresentou desafios ao governo.
A necessidade de o Governo angolano prestar contas foi um dos desafios apresentados pelo presidente da UNITA, sobretudo em relação ao “enorme diferencial” entre o preço do barril de petróleo e o Orçamento Geral do Estado (OGE), tanto para final de 2021 como de todo o ano de 2022.
“E o mercado, o preço do barril, os especialistas fizeram cálculo e dizem que 11 mil milhões de dólares de superavit que não foi justificado por OGE rectificativo. Ora quando o preço do barril está em baixa o governo tem pressa em fazer o OGE rectificativo para que possa justificar a despesa pública, quando está em alta não presta contas e é muito dinheiro”, apontou.
Adalberto da Costa Júnior lamentou ainda o ambiente de “perseguições, prisões e ameaças contra os cidadãos, após as eleições, e inclusive excesso de uso da força direccionado, inclusive, a crianças de escolas”. “Pelos vistos o Presidente não acompanha o país real, (…) e sobre toda esta questão um absoluto silêncio”.
“Nós não vivemos um bom ambiente de coesão política nacional, de coesão social, institucional, nós partimos para este ano legislativo com o partido que governa a assaltar o poder na Assembleia Nacional, a desrespeitar legislação e regulamentos internos do parlamento”, rematou.
Abel Chivukuvuku também criticou o discurso à Nação de João Lourenço, que classificou como “um discurso administrativo”.
“É tudo o que fez, em nenhum momento disse ao país como é que Angola está e é por isso que nesses termos podemos dizer que o chefe de Estado falhou”, defendeu.
O Presidente, acrescentou, “também confessou que neste momento o regime não tem ainda programa para os próximos anos, explicou que vamos agora começar a elaborar o programa para o quinquénio, afinal não existe ideia absolutamente nenhuma”.
“Portanto, falta visão, falta ambição política para Angola, falta propósito”, concluiu Abel Chivukuvuku, um dos 90 deputados eleitos pela UNITA para a legislatura 2022-2027.
Folha 8 com Lusa